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É possível avaliar TRL de um projeto de agronomia?

TRL – Technology Readiness Levels – têm sido amplamente utilizados em P&D+I como uma métrica de maturidade de tecnologias. Nós já comentamos em outro post, porém, que a avaliação de maturidade requer mais do que a simples interpretação das descrições de cada nível para tentar encaixar um projeto. Para ter um resultado confiável, de forma que a avaliação realmente tenha um resultado útil, é necessário um processo sistemático e baseado em evidências: o TRA.

Mas o TRA, com todas as suas regras e advindo da indústria aeroespacial, pode ser aplicado a um projeto de agronomia? Para encurtar a conversa: sim! Ele pode ser usado e com referências confiáveis.

É claro que alguma modificação deve ser feita e cuidados devem ser tomados, mas é isso que queremos explicar neste post.

Referências

O Instituto Nacional de Alimento e Agricultura estadunidense (NIFA) introduziu ao Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) o TRL de investigação agrícola (crop research TRL): uma adaptação da escala da NASA para aplicação em três frentes de estudo. Na ocasião, cada tecnologia candidata ao programa deveria ser apresentada juntamente com uma avaliação de maturidade. Isso já mostra que é possível aplicar a escala para o setor de agronomia.

O Conselho de Assistência à Pesquisa da Indústria de Biotecnologia (BIRAC), da Índia, e o Fundo Newton, do governo britânico, também definiram suas escalas. Nessas aplicações, as modificações principais aconteceram em termos de tradução de terminologia técnica, sem sugerir TRAs específicos.

É na indústria brasileira, porém, que reside a maior referência em avaliação de maturidade de tecnologias de agricultura: o Manual do uso da escala TRL/MRL, pela Embrapa.

Nesse documento, a Embrapa sugere a adoção de Coeficientes Técnicos Atuais (CTA) e de Referência (CTR), sendo eles parte integrante dos requisitos da tecnologia em desenvolvimento. Tratam-se de grandezas indicadoras de performance da tecnologia, medidas quantitativamente. A sugestão é que cada tecnologia tenha seus indicadores e, atribuída a ela, uma meta com base teórica em tecnologias similares – um valor de referência, então chamado CTR. É claro que esse valor não é atingido nos primeiros níveis de maturidade, mas se acompanha a evolução por meio da medição dos valores atuais desses indicadores – o CTA.

Dessa forma, um dos objetivos do projeto é fazer com que os patamares atingidos de desempenho, medidos pelo CTA, alcancem (ou superem) os valores de referência, ou CTR.

Para além disso, o manual é uma ótima fonte de tradução de terminologia e conceitos da indústria mecânica para a realidade da agronomia e biologia. Ele elenca exemplos de escalas preenchidas, com especificações gerais sobre o atingimento daquela maturidade e um glossário mais apurado, o que é extremamente importante para a correta comunicação durante a execução de um TRA.

O que é importante ter em mente?

A Fundação CERTI aplica avaliação de maturidade tecnológica em projetos de agronomia também. O que percebemos na execução é que os parâmetros têm relação muito menos direta no resultado final em comparação com a indústria mecânica. Na agronomia, os parâmetros são ajustados esperando uma resposta no desenvolvimento da planta, mas o processo de crescimento do organismo é muito mais complexo, envolvendo muitos parâmetros de difícil controle.

Por isso, muitas vezes é difícil conduzir um raciocínio indutivo (esperar sempre o mesmo resultado para os mesmo parâmetros de entrada), de forma que o acompanhamento da estatística dos resultados é essencial. Nesse sentido, uma parte importante do desenvolvimento é diminuir a dimensão da incerteza, além de evoluir performance.

É importante manter em mente também que, diferentemente da indústria aeroespacial, na qual o produto tem a tecnologia dentro de si, no contexto da agronomia não se projeta um novo produto, uma planta. Em geral, o desenvolvimento se dá pela criação de uma tecnologia para tratamento, modificação ou extração de substâncias. Nesses casos, a tecnologia é um processo novo, mais do que um dispositivo ou algoritmo. Por isso, a adoção dos critérios de MRL (Manufacturing Readiness Levels) é tão relevante quanto os de tecnologia.

A própria escolha das tecnologias críticas deve ser feita imaginando um WBS (Work Breakdown Structure) do processo de produção da planta, e não do produto em si (a planta). Se a escolha é feita erroneamente, é possível que as partes verdadeiramente críticas do projeto sejam deixadas de lado, comprometendo os aspectos de confiabilidade do TRA.

Benefícios do TRL para o projeto de agronomia

A escala de TRL é facilmente aplicada na realidade do desenvolvimento agronômico, dada a natureza científica dos seus projetos. A documentação necessária para provar as hipóteses de base de uma tecnologia precisam ser bem documentadas para justificar o investimento em uma “aposta” dificilmente quantificável. O resultado é que, ao final da prova de conceito do projeto, as evidências objetivas requeridas pelo TRL já são atendidas, mesmo que o desenvolvimento não tenha levado em conta os níveis de maturidade.

Além disso, os estudos de Stewardship (Programa de Controle de Antimicrobianos) e os Procedimentos Operacionais Padrões (POPs), se utilizados, já garantem o atingimento de uma série de outros requisitos de TRLs de experimentação laboratorial (TRL3 a TRL5) da solução de calculadora de TRL proposta pela Fundação CERTI.

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Como comentamos na seção anterior, os parâmetros de projeto têm relação menos direta no desempenho dos organismos das plantas. Isso pode levar a uma perda de controle dos requisitos de projeto, tão importante e comentado em projetos de engenharia. É muito comum ver empresas que desenvolvem seus projetos acreditando em resultados promissores, mas sem controlar o desenvolvimento da tecnologia por meio de indicadores claros, com metas estabelecidas. E dessa forma se perde facilmente o controle do projeto.

Talvez o principal benefício do TRL para projetos de agronomia seja o apoio ao planejamento dos experimentos. Não podemos acelerar o desenvolvimento de um embrião e, por isso, demoram-se meses para conseguir avaliar os resultados de uma mudança de parâmetros ou emprego de uma tecnologia. Dessa forma, todas as ações de desenvolvimento precisam ser bem coordenadas e planejadas para atingir o máximo de eficiência na pesquisa.

A escala de maturidade, então, pode ser usada como um guia para o desenvolvimento: um método de reconhecer os próximos passos para a evolução da tecnologia. Ela propõe que os testes sejam executados primeiramente em laboratório, depois em um ambiente relevante e, por fim, no meio operacional. Define, também, os conceitos de escala de laboratório, de engenharia, prototípica e final/operacional.

Usando esses conceitos, pode-se entender com mais clareza o momento atual do projeto e, assim, visitar os próximos desafios. Fazendo isso e refletindo sobre as necessidades de cada escala e ambiente, a equipe tem um balizador para planejar materiais, ferramentas e esforço para os próximos três anos de pesquisa, com uma ideia de metas para cada experimento.

Enfim, executar uma avaliação de maturidade de tecnologia não é tarefa fácil, ainda mais adaptando a escala TRL para uma outra realidade. Mas é possível e importante! Todas as vezes que executamos uma análise TRA acabamos por gerar um rebuliço na gestão da inovação, mas o resultado também é muito claro: um grande avanço na maturidade dos gestores no gerenciamento de seus projetos.

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