Veículos elétricos estão em alta. Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), houve aumento de 140% nas vendas no primeiro trimestre de 2021, o que representa mais de 1 milhão de unidades vendidas.
Embora o movimento seja puxado principalmente por países da Europa, além de China e Estados Unidos, o Brasil também acompanhou esse processo. De acordo com a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), o País teve o melhor quadrimestre da história, com mais de 7 mil unidades eletrificadas emplacadas somente entre janeiro e abril de 2021, aumento de 29,4% em relação ao mesmo período do ano anterior.
E essa tendência só vai aumentar. A mesma IEA indica que a frota global de veículos elétricos (carros, vans, ônibus e caminhões) deve chegar a 145 milhões até 2030 – e ultrapassar esse número, no cenário mais otimista.
No Brasil, dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apontam que, até o final desta década, devemos ter cerca de 1 milhão de unidades rodando no País. O mercado está sendo impulsionado pela chegada em peso de novos modelos.
Mesmo com o otimismo em relação a uma frota cada vez mais verde e eletrificada, há um importante desafio no caminho desta conquista: a infraestrutura para carros elétricos. Especialmente no Brasil, os pontos de recarga ainda são escassos e há dificuldade em suprir a demanda elétrica.
Afinal, ainda há poucos modelos de veículos elétricos que possuem autonomia parecida com a de veículos à combustão interna. Isso demanda um grande investimento para a criação de corredores de recarga espalhados por todo o País.
Em um cenário de crise hídrica, causada, entre outros motivos, pela forte estiagem que atinge os principais reservatórios, a discussão sobre como suprir a demanda de energia volta-se sobretudo para a energia fotovoltaica.
Infraestrutura para carros elétricos e a energia fotovoltaica
A infraestrutura para carros elétricos é um dos principais entraves para que a tecnologia deslanche no País. Segundo a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), até 2030 serão 80 mil pontos de recarga elétrica em todo o Brasil.
No entanto, diante das previsões de aumento expressivo da frota e dos pontos de recarga, surge o questionamento: de onde sairá a energia para alimentar toda essa demanda?
Novamente, é necessário ressaltar a crise energética pela qual o Brasil passa e a consequente alta nos preços das tarifas. Considerando a nossa matriz energética altamente dependente de recursos hídricos, a energia fotovoltaica ganha espaço nesse debate.
Felizmente, o Brasil é um dos países com maior potencial para geração de energia solar do mundo. Para se ter uma ideia, em 2021 nossa nação ultrapassou a marca histórica de 11 GW de potência operacional advinda de fontes solares fotovoltaicas. Os dados são da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) .
Nesse sentido, a energia fotovoltaica torna-se ponto central quando falamos de infraestrutura para carros elétricos. Projetos como o Eletroposto Celesc, desenvolvido em uma parceria das Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc) e da Fundação CERTI, já atuam na criação de pontos de recarga cuja energia será gerada por placas fotovoltaicas e armazenadas em baterias.
Embora, em alguns países, já vivamos um cenário em que residências e empresas podem, por meio das suas próprias placas solares, gerar a energia que abastecerá seus veículos elétricos, soluções como essas têm importante impacto no Brasil, principalmente nos grandes centros urbanos.
Isso porque a energia solar é facilmente adaptada à rede por meio da geração distribuída, o que permite oferecer mais pontos de recarga que atendam melhor a população que não conta com estrutura própria.
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Duck Curve: o desafio da energia solar
Por anos, houve um padrão no consumo de energia: a demanda é menor durante a noite, quando as pessoas estão dormindo em suas casas, e começa a subir conforme o dia inicia, atingindo seu pico na parte da tarde.
No entanto, com a expansão da geração fotovoltaica, observa-se uma mudança na forma de consumo: como a inserção de energia proveniente do sol ocorre durante o dia, menos energia de outras fontes é necessária no sistema.
Porém, conforme a produção solar reduz ao anoitecer, a geração de energia tradicional volta a subir para suprir a demanda noturna da rede. Nesse sentido, a duck curve é a diferença, representada em gráficos, entre a demanda por eletricidade na rede e a quantidade de energia solar disponível em um dia.
O problema é que esse desequilíbrio entre geração de energia fotovoltaica e demanda durante o dia pode resultar no desperdício de parte do que as fontes fotovoltaicas geram. Se essas fontes geram mais energia do que o necessário, há um excesso de oferta na rede e as distribuidoras são obrigadas a reduzir a produção solar, com o objetivo de evitar problemas em sua infraestrutura.
Não obstante, com o pôr do sol, a geração fotovoltaica diminui de maneira drástica e as fontes tradicionais devem entrar rapidamente para suprir a demanda crescente das pessoas voltando para suas casas. Com mais veículos elétricos sendo carregados durante à noite, há um aumento maior ainda na demanda, o que pode elevar o custo da eletricidade. Comparativamente, um único veículo elétrico dotado de tecnologia de carregamento rápido (fast charging) pode ser equivalente, na rede, ao consumo de 50 casas.
O Smart Charging como solução
A solução para a duck curve e suas possíveis consequências pode estar na recarga inteligente (smart charging). A tecnologia otimiza o processo de recarga de maneira inteligente, por meio da comunicação entre o veículo e a rede, e gerencia melhor os recursos.
Assim, é possível controlar as recargas durante os horários de pico pelas manhãs e no começo da noite; e distribuir as recargas ao longo do dia, com os veículos conectados a estações de recarga enquanto estão estacionados.
Com isso, aliviam-se os picos de demanda que podem piorar a duck curve, além de diminuir o vale da curva, formado ao longo do dia.
Em resumo, essa abordagem tem duas grandes vantagens: melhorar o aproveitamento da energia solar (limpa e renovável) ao longo do dia e reduzir – ou até mesmo eliminar – picos muito grandes na demanda durante a noite, quando a energia fotovoltaica diminui e outras fontes entram em ação.
Com isso, o veículo elétrico pode servir não apenas como meio de transporte, mas também como serviço ancilar às distribuidoras de energia na manutenção do equilíbrio em suas redes elétricas.
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A mobilidade elétrica é um caminho sem volta e é preciso buscar formas para melhorar a infraestrutura para carros elétricos no Brasil. Felizmente, a resposta pode estar na energia fotovoltaica e no investimento em redes mais inteligentes e eficientes.
Para saber mais sobre iniciativas para o setor, convidamos você a conhecer o projeto Eletroposto Celesc, criado em parceria com a CERTI para melhorar a eletromobilidade brasileira. Acesse e conheça suas origens, seus objetivos, os principais desafios e avanços, o que esperar para o futuro e muito mais.