A preservação da floresta Amazônica, assim como de outros biomas, passa diretamente pelo empreendedorismo e inovação de impacto, capazes de gerar valor para a floresta em pé, contribuindo dessa forma para sua conservação.
Neste artigo, saiba mais sobre o potencial de ativação do ecossistema de inovação da região amazônica, conheça a iniciativa Jornada Amazônia e veja quais são as três etapas do empreendedorismo inovador. Acompanhe!
Qual o potencial de ativação do ecossistema de inovação da Amazônia
Desde o final de 2018, a Fundação CERTI mapeia o potencial do ecossistema de inovação dos estados da Amazônia brasileira. O objetivo desse mapeamento é entender e em seguida construir estratégias para ativar o potencial da região a partir da geração de soluções inovadores que valorizem a floresta em pé. A partir do estudo, constatou-se que:
- Entre 2015 e 2018, ao menos 360 startups surgiram na região, sendo que 35% delas podem atuar para, de fato, criar valor para a floresta protegida.
- Foram identificadas cerca de 80 instituições científicas na Amazônia brasileira. Juntas, são responsáveis por quase 2 mil linhas de pesquisa associadas a tecnologias e produtos com potencial para gerar valor a partir da biodiversidade.
- Mais de 158 faculdades e universidades que oferecem 2700 cursos de graduação nas áreas do conhecimento necessárias para capacitar os talentos empreendedores da região.
Embora os estados amazônicos contem com essa importante estrutura educacional, para a ativação do ecossistema local é necessário incentivar uma cultura empreendedora focada na inovação, possibilitando um pipeline que impulsione a criação de novos negócios.
As 360 startups identificadas desde o início do mapeamento são resultado de mais de 20 mecanismos e programas de fomento ao empreendedorismo. Além disso, são mais de 50 incubadoras e aceleradoras atuando na região. No entanto, boa parte com baixo nível de maturidade e competitividade.
Assim, para gerar negócios e soluções inovadoras que ajudem na conservação da floresta, é preciso propiciar uma escala muito maior do processo de criação de startups. Isso deve vir acompanhado de maiores taxas de sucesso, velocidade de crescimento e impacto socioambiental e econômico.
Para que isso seja possível, deve-se criar a sinergia necessária entre os mecanismos de originação, fortalecendo-os e qualificando-os para que possam dar o suporte, os recursos e a proximidade com o mercado necessários para que novos empreendimentos inovadores prosperem.
Este último ponto, ressalta-se, é fundamental. O verdadeiro sucesso das startups depende de um alinhamento ao mercado e a ecossistemas mais maduros. Durante o mapeamento, foram identificadas mais de 350 empresas de médio e grande porte, de diferentes países, que buscam desenvolver produtos baseados na biodiversidade amazônica.
Em um modelo B2B, essas organizações despontam como potenciais parceiros ou clientes das startups desenvolvidas na Amazônia.
Jornada Amazônia: fortalecendo o empreendedorismo de impacto
Com base nas informações do mapeamento, a Fundação CERTI idealizou a estrutura de um ecossistema de empreendedorismo e inovação na região amazônica, considerando os requisitos, mecanismos e funções necessárias para promover negócios de impacto na Amazônia.
O foco é a promoção de empreendimentos capazes de contribuir para a redução do desmatamento a partir dos conceitos de bioeconomia e de negócios de impacto positivo. Para isso, os mecanismos criados devem atuar de acordo com as necessidades desses novos empreendedores, auxiliando até o ponto de maturidade dos negócios.
A partir dessa estruturação nasceu a Jornada Amazônia. Iniciada em 2019, a iniciativa tem o objetivo de promover o potencial de ativação do ecossistema de ativação dos estados amazônicos que permitisse desenvolver soluções inovadoras para a conservação da floresta.
Os desafios para ativar o ecossistema da região
A Jornada Amazônia já surgiu com um grande desafio em mãos. Durante o mapeamento da região, constatou-se que, embora haja um grande número de players com enorme potencial para ativação do ecossistema de inovação amazônico, em muitos casos, esses atores encontram-se dispersos e não integrados. E isso reflete em baixa produtividade e pouca eficiência dos recursos investidos.
Além disso, há um problema com a falta de organização da cadeia. Há uma baixa conexão dos atores da base da cadeia com o mercado. Isso cria um abismo entre a demanda e a oferta, impactando diretamente as comunidades locais, que pouco se beneficiam da agregação de valor.
Nesse sentido, a Jornada Amazônia entende que é preciso gerar uma perspectiva de cadeia completa (da floresta ao mercado), priorizando inovações que possam gerar valor para a floresta em pé, diversificar a demanda e reduzir a vulnerabilidade dos empreendimentos locais.
Tudo isso deve ser feito em um contexto em que, ainda hoje, a floresta conservada não é economicamente competitiva frente às commodities da região e à exploração de madeira e gado. A competitividade e atratividade econômica das cadeias sustentáveis demandam inovação em escala. Em outras palavras, trata-se de ativar e impulsionar o ecossistema de inovação da região.
Diante de tudo isso, a Jornada Amazônia busca ampliar as oportunidades de negócios baseados na biodiversidade, valorizando uma floresta que permanece em pé e preservada. Trata-se de fomentar o empreendedorismo de impacto, estimulando propostas inovadoras capazes de gerar valor econômico e socioambiental.
Os objetivos da Jornada Amazônia
A iniciativa conta com cinco grandes objetivos:
- Promover a competitividade econômica da floresta em pé, valorizando a biodiversidade por meio da inovação;
- Despertar talentos para o empreendedorismo e estimular a pesquisa orientada para produtos e processos de impacto positivo para a floresta, atuando na base de geração de conhecimento;
- Incentivar o surgimento de novas soluções, que, a exemplo do açaí, valorizam as oportunidades locais, demandas de mercado e a sustentabilidade socioeconômica e ambiental da floresta amazônica;
- Fortalecer a conexão entre a indústria e as cadeias sustentáveis e regenerativas da floresta;
- Contribuir para a mitigação das mudanças climáticas globais, com atuação sistêmica em diversos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS/ONU).
A partir desses objetivos, a Jornada Amazônia propõe metas ambiciosas para os próximos cinco anos. Entre elas, está a preservação de 1 milhão de hectares de floresta diretamente vinculados a negócios, como resultado do trabalho de cadeias produtivas inovadoras.
Além disso, estima-se que serão:
- Movimentados R$ 400 milhões por meio da produção sustentável
- Criados 400 empreendimentos inovadores
- Impactados 40 mil talentos
Os momentos do empreendedorismo inovador
Ativação
O mapeamento realizado pela Fundação CERTI evidenciou a lacuna existente no início da jornada de um empreendimento: embora haja um grande número de cursos e linhas de pesquisa, poucos empreendimentos em bioeconomia surgem na região.
Assim, a etapa de ativação busca despertar novos talentos para o empreendedorismo de impacto, levando as ideias à ação para que, futuramente, possam mudar suas próprias realidades.
A implementação de mecanismos para esse momento gera uma cultura empreendedora importante para a ativação do ecossistema. Entre suas diretrizes estão a diversidade e o protagonismo jovem. Para isso, esta etapa baseia-se na parceria com universidades e escolas técnicas.
Originação
A originação de novos empreendimentos em bioeconomia é essencial para a criação de um ecossistema de inovação relevante. Sem novas empresas surgindo, não há escala para promover as mudanças pretendidas.
Nesta etapa, o objetivo é estimular os empreendedores locais com ideias já formadas ou que precisam de aprimoramento e transformá-las em novos negócios, capazes de gerar impacto positivo para a floresta e para as comunidades envolvidas.
A mobilização de talentos e conhecimento locais para a criação de novas soluções e negócios colabora para deixar um legado além das startups. Esse movimento afeta o mindset de pesquisadores, estudantes e empreendedores, mostrando-os uma nova perspectiva.
Evolução
O momento de evolução trata de promover conexões que potencializam soluções inovadoras. Esta é a etapa em que são feitas parcerias e em que os negócios já criados se conectam com o mercado para desenvolver novas soluções e tecnologias que vão ampliar suas chances de sucesso.
Essas conexões são direcionadas com o objetivo de promover novas oportunidades na cadeira de bioeconomia sustentável, que gerem benefícios para a conservação da floresta.
A Fundação CERTI atua como idealizadora e coordenadora da Jornada Amazônia. Para saber mais sobre a iniciativa, acesse o site do projeto.