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Processo de desenvolvimento de produtos para saúde: o que aprendemos nessa trajetória

O desenvolvimento de produtos para saúde é um nicho interessante e que deve crescer muito nos próximos anos. Um dos focos tem sido a simplificação e descentralização de testes laboratoriais de forma que, associado ao exame clínico feito por um médico, consiga-se detectar doenças em poucos minutos. Isso é possível hoje graças a equipamentos eletromédicos para testes no ponto de atendimento ao paciente (em inglês, point of care, abreviado por PoC). Os principais benefícios deles são:

Facilidade: o paciente não precisa se deslocar até um laboratório e, como o   resultado sai em questão de minutos, o tratamento pode ser prescrito ainda durante a consulta.

Triagem: o equipamento pode ser operado pelo agente comunitário, que consegue encaminhar o paciente corretamente, agilizando o atendimento.

Autonomia: em casos como o de diabéticos, o próprio paciente pode fazer o controle da glicose em casa. Essa facilidade também é  estendida a outras doenças.

Mais chances de salvar vidas: a rapidez do diagnóstico facilita o tratamento, por exemplo, em casos de choque séptico. A rápida identificação do agente infeccioso pode ser decisiva para a sobrevivência do paciente.

Trajetória de desenvolvimento de produtos para point of care

Costumamos dividir a trajetória de desenvolvimento de produtos para point of care em três gerações: testes rápidos por meio de tiras reagentes, aparelhos eletromédicos e equipamentos de eletrônica de consumo:

1ª geração – Foi a fase dos testes rápidos para diagnóstico (em inglês: rapid diagnostic tests – RDTs), baseados principalmente em imunocromatografia em tiras reagentes de fluxo lateral (em inglês, lateral flow), sem o uso de um equipamento. O exemplo mais conhecido é o teste para diagnóstico de gravidez, vendido em farmácias. Como o resultado deste tipo de teste é avaliado de forma visual, muitas vezes ele é subjetivo e sujeito a erros.

2ª geração – Em seguida, o desenvolvimento de produtos para point of care passou a ser baseado em aparelhos eletromédicos, que, hoje, são a  maioria dos produtos fabricados. Esses equipamentos buscam ser baratos, transportáveis, robustos e de fácil uso. As tiras reagentes não foram dispensadas, mas integradas a cartuchos descartáveis. Eles são inseridos numa leitora dotada de módulo de câmera embarcada e sistema de processamento digital de imagens. Dessa forma, o equipamento é capaz de realizar uma análise quantitativa das bandas reagentes, fornecendo rapidamente um resultado objetivo para o teste, ao contrário da análise visual dos testes de primeira geração.

Também fazem parte dessa segunda geração os testes de análise de ácidos nucleicos (em inglês nucleic acid tests – NATs). Em um NAT, a amostra biológica é aplicada no cartucho descartável. Em seguida, ele é inserido no aparelho que controla as etapas de execução do teste e mensura as reações, apresentando o resultado final ao operador.

Há, ainda, sensores de tecnologia menos madura, como os magnéticos, os de ondas acústicas de superfície, os baseados em sistemas microeletromecânicos (MEMS) e outros. Exemplos de produtos para saúde que usam estas tecnologias são os medidores de glicose e monitores de oxigenação sanguínea.

3ª geração – Será a próxima geração de testes PoC, mas ainda carece de validação. Basicamente, no lugar de investir em um novo equipamento, a terceira geração prevê a utilização de equipamentos de eletrônica de consumo, principalmente telefones celulares. A ideia é que os produtos para point of care sejam uma espécie de acessório “plug-in” que permitam a realização dos testes. Para isso, eles devem ser baseados, geralmente, em detecção óptica, com o uso da própria câmera do celular. Já existem diversas tentativas de tornar essa tecnologia possível, porém a validade clínica desses dispositivos PoC ainda não está claramente demonstrada e, portanto, representam uma grande oportunidade para empresários que desejam investir.

Quais são os principais desafios?

Ainda há diversas barreiras que precisam ser transpostas para a consolidação total desse modelo de diagnóstico e a comercialização em massa desse tipo de produto para saúde. Uma delas diz respeito à preparação automatizada da amostra no cartucho em lugar da manipulação em tubos de ensaio. Esse é um desafio especialmente grande em alguns tipos de teste, como o de diagnóstico molecular, por exemplo. Isso porque uma série de etapas complexas precisa ser executada em um cartucho microfluídico, sem o comprometimento significativo da sensibilidade e especificidade do teste. Apesar dos desafios, já tivemos avanços bastante significativos, como:

GeneXpert – Produto desenvolvido pela empresa Cepheid baseado em uma plataforma que utiliza um cartucho para realização de todas as etapas de preparação da amostra e amplificação molecular do alvo genômico. Um dos testes disponíveis para este equipamento identifica a presença da bactéria causadora da tuberculose e também uma possível resistência a antibióticos.

PodiTrodi (Technology Platform for Point-of-Care Diagnostics for Tropical Diseases) –  Trata-se de um projeto para a detecção da doença de Chagas. Cofinanciado pelo governo brasileiro e pela Comissão Europeia, o projeto foi coordenado pela Unicamp, em parceria com outras 12 instituições brasileiras e europeias, entre elas a Certi. A tecnologia também é baseada em um aparelho com cartucho microfluídico descartável. O teste combina em um mesmo cartucho um imunoensaio cromatográfico e um teste NAT por reação em cadeia de polimerase (em inglês, polimerase chain reaction – PCR) em tempo real. O equipamento ainda não está nas prateleiras porque precisa passar por algumas etapas como a de validações laboratoriais. Mas, quando estiver no mercado, esse produto para saúde deverá ser um importante agente para combater a doença que aflige milhões de brasileiros e é responsável pela morte de milhares de pessoas todos os anos.

Leia mais sobre o PodiTrodi clicando aqui.

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