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Veículos elétricos no Brasil: quando a tecnologia deve ganhar força?

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Em 2017, uma reportagem publicada na revista Exame anunciava: “2017 é o ano dos carros elétricos “populares” – não para o Brasil”. Segundo a publicação, entre 2017 e 2020, praticamente todas as grandes montadoras lançariam um modelo ou relançariam uma versão existente com mais autonomia e na faixa dos 30 mil dólares.

Menos de quatro anos depois, pouco mudou. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a previsão é que o Brasil passe dos atuais 30 mil para 1 milhão de carros híbridos (movidos a combustão e a bateria) até 2030 – o equivalente a 180 mil unidades por ano.

No entanto, para que essa previsão se concretize, temos um longo caminho pela frente. Números da Associação Brasileira das empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa) apontam que, atualmente, os carros elétricos representam apenas 0,03% da frota. Para se ter uma ideia, no primeiro semestre de 2020, apenas 239 unidades foram comercializadas.

Em entrevista à revista Época, o analista de Política Energética da Agência Internacional de Energia (IEA), Jacob Teter, afirma que  “as vendas aumentarão também no Brasil, mas a velocidade de penetração no mercado é difícil de prever, depende de o país estabelecer um ecossistema, política de apoio, conscientização e educação do consumidor”.

Você viu no post sobre desenvolvimento de tecnologias para veículos elétricos que os modelos têm se mostrado uma excelente alternativa para diminuir a emissão de gases nocivos à atmosfera. Além de sustentáveis, há vantagens para o empresário e o consumidor final. Inclusive, a tecnologia já é forte em outros países, embora ainda tenha uma representatividade tímida no Brasil. 

Mas, se as vantagens da utilização de carros e outros veículos elétricos já foi comprovada, o que ainda falta para a inserção dos veículos elétricos no Brasil? É o que abordaremos nesse texto. Acompanhe!

Crescimento de VE no Brasil

Apesar de representarem uma parcela ainda muito pequena da frota nacional, o interesse do consumidor por carros elétricos vem crescendo em todo o país. O total de vendas de automóveis eletrificados no primeiro semestre de 2020 apresentou crescimento de 221% em relação ao mesmo período do ano anterior, superando mais de 30 mil unidades em circulação.

De acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), trata-se do melhor primeiro semestre já registrado na série histórica. “Os números indicam que o segmento está superando o pior momento da crise causada pela Covid-19”, afirma o presidente da ABVE, Adalberto Maluf, ao site da associação.

Esse movimento mostra uma tendência oposta ao que acontece com os veículos movidos a combustão. Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a indústria automobilística tradicional registrou queda de 50,5% no primeiro semestre de 2020.

Mudança do veículo a combustão ao veículo elétrico

Com as preocupações ambientais e com a crescente demanda por veículos movidos a energia limpa, cresce no Brasil as pressões para uma política de mudança dos veículos a combustão para veículos elétricos.

Em março de 2020, foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado o Projeto de Lei nº 304 de 2017, apresentado pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI). O PL propõe proibir a venda de veículos novos movidos a combustíveis fósseis a partir de 1º de janeiro de 2030 – incluindo carros híbridos.

De acordo com a proposta, a partir dessa data só poderão ser comercializados veículos novos que sejam movidos a biocombustíveis, exemplo do etanol e do biodiesel, bem como veículos elétricos.

E tem mais: o projeto ainda estipula a proibição da circulação de veículos com motores de combustão interna a partir de 2040. Atualmente, o PL 304/2017 está pendente de votação na Comissão de Meio Ambiente (CMA). Para ser aprovado, o texto deve passar pelo Senado e pela Câmara, antes de ser submetido à sanção ou ao veto presidencial.

O PL 304/2017 vai ao encontro de movimentos de diferentes nações ao redor do mundo. O Reino Unido, por exemplo, anunciou que vai banir carros híbridos e a combustão até 2035. Já a França estipulou prazo final para 2040. Seguem esse movimento outros países europeus, como Noruega, Irlanda e Alemanha.

Vale lembrar que o Brasil já conta com projetos em vigor no que diz respeito a veículos elétricos. Um deles é o Rota 2030, um conjunto de diretrizes do governo federal que inclui, entre outras coisas, metas de eficiência energética para veículos a combustão e estímulos para a produção de carros elétricos e híbridos. Também há a Chamada de Projeto de P&D Estratégico nº 22/2018 da ANEEL, com investimento de R$ 463,8 milhões em 30 projetos selecionados.para Desenvolvimento de Soluções em Mobilidade Elétrica Eficiente.

Impostos e regulações ao veículo elétrico

Em 2018, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou a Resolução Normativa nº 819/2018. Trata-se da primeira regulamentação sobre a recarga de veículos elétricos para instituições e pessoas interessadas na prestação desse serviço, como shoppings e postos de combustíveis.

O objetivo desta regulamentação é reduzir as incertezas para os investidores interessados em desenvolver a infraestrutura de recarga no Brasil, permitindo, inclusive, a exploração comercial da atividade por qualquer interessado.

Já pelo lado do incentivo, a cidade de São Paulo foi uma das primeiras capitais a se mover nesse sentido. Em 2020, foi sancionado pelo prefeito da cidade um projeto de lei que obriga edifícios residenciais e comerciais novos a oferecer opções para a recarga de veículos elétricos. A regulamentação passa a valer a partir de março de 2021.

Impostos: veículo elétrico paga IPVA?

Outro assunto importante envolvendo veículos elétricos diz respeito aos impostos, sobretudo ao IPVA. Embora não haja uma legislação federal que determine a isenção de carros elétricos ou híbridos, alguns estados contam com regras específicas sobre o assunto.

Maranhão, Paraná, Pernambuco, Piauí, Sergipe, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte, por exemplo, garantem 100% de isenção do imposto para veículos elétricos e híbridos. Por sua vez, o Distrito Federal assegura o benefício para quem investir em um veículo do tipo pelos próximos cinco anos. Estados como Ceará, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro contam com regras e critérios de desconto no valor do imposto.

Quais são e quanto custam os carros elétricos no Brasil?

Diferentemente de países na Europa, na Ásia e na Oceania, os veículos elétricos ainda não marcam tanta presença nas ruas do Brasil. De fato, boa parte das opções disponíveis no mercado nacional ainda são importados e a maioria ainda apresenta preços ao alcance de poucos.

Os carros elétricos vendidos no Brasil são (valores relativos a maio de 2020):

Os desafios e perspectivas dos veículos elétricos no Brasil

Apesar da visão otimista sobre o avanço da tecnologia para veículos elétricos em nível global, as perspectivas para o Brasil ainda são incertas. A falta de incentivos governamentais e o alto custo dos veículos são as principais barreiras, de acordo com a revista Exame.

Segundo o Ministério dos Transportes, o país possui 1,7 milhão de quilômetros de estradas, quase 13% delas pavimentadas. Mas esse fato em si não é suficiente para fomentar um mercado que depende de incentivos. É preciso políticas de incentivo e metas nacionais para se alcançar, por exemplo, um nível de redução satisfatório de carros a combustão ou de emissão de gases de efeito estufa.

A Noruega, por exemplo, é um país que não possui grandes rodovias ou crescimento expressivo de frota, mas é destaque na inserção da tecnologia porque possui uma das mais eficazes políticas de incentivo para a compra de veículos elétricos.

Redução dos custos

O alto custo é o principal fator que vem à mente quando se pensa na inserção de veículos elétricos no Brasil, tanto para infraestrutura que comporte a demanda, sendo energia ou rodovias, quanto dos próprios veículos e sua comercialização. Para adquirir um modelo hoje, é preciso desembolsar no mínimo R$140 mil por um modelo importado. Mas isso tende a mudar.

O avanço das pesquisas em relação às baterias deve tornar o produto mais viável e escalável. Isso porque a bateria representa cerca de um terço do custo do carro. O valor das baterias tem caído na ordem de 15% ao ano. De fato, 2025 é considerado o ponto de inflexão no mercado, pois é quando o custo das baterias, restrições ambientais e o aumento da infraestrutura tornarão o veículo elétrico uma opção mais atrativa para o consumidor.

Além disso, a estimativa é que entre 2025 e 2030 os preços dos modelos elétricos se equiparem aos dos veículos a combustão. E para isso acontecer, é necessário contarmos com novas baterias mais em conta.

Apesar disso, não há vantagens governamentais suficientes que sirvam como incentivo para as empresas inserirem de vez os veículos elétricos no Brasil – principalmente no que diz respeito à infraestrutura para essa nova demanda na rede elétrica, mas há algumas iniciativas.

O BNDES possui, desde 2005, incentivos especiais para a compra de ônibus e produção de veículos elétricos de passageiros para exportação. A tributação para importação, que antes era de 35%, hoje é zero para veículos totalmente elétricos.

Como vimos, alguns estados já tomaram a iniciativa de zerar a alíquota do IPVA. Ainda é pouco, mas à medida que a sociedade e os empresários passam a pressionar o governo, a tendência é que mais incentivos sejam oferecidos no país, como a redução de IPI, que iniciou no final de 2015.

Infraestrutura de carregamento de veículos elétricos

Basta observarmos a grande extensão e complexidade das rodovias brasileiras para compreendermos a dificuldade que haverá em suprir a demanda por recarga de veículos elétricos no Brasil. A autonomia de um carro elétrico ainda não é comparável à de um veículo movido à combustível, o que demanda corredores de recarga elétrica por todo o país.

A Noruega é o país com a maior proporção de pontos de recarga em relação ao número total de veículos (cerca de 2%). Por lá, a explosão na penetração desse tipo de veículo se dá principalmente por conta de uma alteração no regime de impostos.

O governo estabeleceu que a quantidade de tributos atribuídos aos veículos vendidos seria proporcional ao quanto de emissões de poluentes eles geram. Isso se deu pelo fato de o país, na Conferência do Clima, em 2012, ter colocado sua meta de emissão de CO2 por passageiro de um novo carro como 85 g/km, para 2020. A média, no ano da conferência, era de 130 g/km.

O que esperar da inserção de veículos elétricos no Brasil?

Com incentivos governamentais e a conscientização da população, haverá um importante mercado, boas oportunidades para as empresas que desejem investir e incentivos em pesquisas para que tenhamos formas cada vez mais eficientes de explorar essa tecnologia. 

A CERTI, por exemplo, além de outras iniciativas, tem incentivado a inserção dos veículos elétricos no Brasil por meio do projeto Eletroposto. Em parceria com a Celesc, estão sendo instalados pontos de carregamento em locais estratégicos.

O objetivo é entender o impacto que a inserção dos carros elétricos no mercado vai causar na rede elétrica, para preparação da infraestrutura necessária para atendimento desta demanda, antecipando-se e contribuindo para o entendimento e definição dos regramentos futuros relativos a este novo mercado.

Caso esse objetivo seja alcançado, as perspectivas são excelentes. Basta observarmos os bons exemplos vindos de outros países e acreditarmos no potencial da pesquisa e da indústria no nosso país.

Quer saber mais sobre veículos elétricos no Brasil e as novidades do setor? Continue acompanhando nosso blog.

Publicado originalmente em: 08/03/2017. Última atualização: 06/10/2020.

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