A gestão da integridade de ativos é estratégica para manter a operação industrial segura, confiável e eficiente. A partir de dados de campo, engenharia aplicada e tecnologia digital, as empresas conseguem reduzir falhas, evitar interrupções em processos produtivos, minimizar custos de manutenção e tomar decisões com maior confiabilidade, com base em maior quantidade de informações.
Para aprofundar esse tema, contamos com a contribuição de Miguel Burg Demay, Coordenador de Projetos e especialista em integridade de ativos na Fundação CERTI. Com formação em engenharia e ampla experiência em projetos voltados à gestão de riscos industriais, Demay atua no desenvolvimento de soluções que conectam tecnologia e confiabilidade operacional.
Neste artigo, apresentamos os principais ganhos da gestão da integridade, os desafios para sua adoção e os caminhos para transformar a prática em parte da rotina de decisão técnica nas empresas.
Gestão da integridade de ativos: o que é?
Gestão da integridade de ativos é um conjunto de práticas e tecnologias que garantem operação segura e eficiente de ativos, equipamentos e estruturas, bem como a disponibilidade dos sistemas ao longo da vida de serviço, com desempenho acima de um mínimo aceitável.
O método oferece suporte técnico às decisões relacionadas à manutenção, monitoramento e prevenção de riscos operacionais. Para isso, são consideradas variáveis como falhas, disponibilidade dos equipamentos e ciclos de vida, mas também parâmetros de produção e do produto, bem como informações de projeto dos ativos.
O objetivo é manter o desempenho dos ativos sem comprometer a segurança nem provocar paradas inesperadas. Para isso, o gestor utiliza ferramentas baseadas em dados, sensores e análises preditivas, no intuito de conhecer o estado atual e futuro dos ativos, e ser capaz de priorizar e planejar com antecedência atividades de manutenção e inspeção.
A gestão da integridade de ativos exige profundo conhecimento técnico e experiência em engenharia. Análises detalhadas de falhas e a vivência prática orientam os métodos aplicados na gestão. Decisões técnicas são tomadas com base em evidências concretas, garantindo clareza e objetividade na operação dos ativos.
Ainda, modelos digitais dos principais fenômenos associados à degradação dos ativos podem ser empregados em um contexto de gêmeos digitais para a gestão da integridade. Estes, são capazes de apoiar decisões como o melhor instante para a realização de uma inspeção ou quando a vida útil de um ativo se expira, o que propicia maior confiabilidade ao planejamento de atividades de inspeção e manutenção.
Principais ganhos da gestão da integridade para as indústrias
A gestão da integridade de ativos proporciona ganhos técnicos, operacionais e estratégicos ao setor industrial. Ao reunir dados sobre o comportamento dos ativos, permite avaliar riscos, planejar ações e sustentar a continuidade operacional.
As informações geradas orientam ajustes preventivos/preditivos e reduzem falhas inesperadas. Os benefícios se manifestam em diferentes áreas da operação:
Manter o sistema produtivo em operação
A gestão da integridade, quando aplicada em melhoria contínua, permite acompanhar o comportamento dos ativos ao longo do tempo, em termos de seus principais modos de falha. Com isso, pode-se estimar o instante que uma falha vai ocorrer, a probabilidade de que ocorra, a sua consequência e o risco associado, orientando assim o planejamento e a priorização de atividades de inspeção e manutenção.
Assim é possível evitar paradas não programadas, preservar recursos e manter o fluxo da produção. Isso reduz custos e melhora a previsibilidade dos processos, além de evitar prejuízos à imagem da empresa e ao meio ambiente.
Análise da capacidade de desempenho dos ativos
Ao monitorar dados de operação, torna-se viável estimar a capacidade real de desempenho dos ativos. A comparação entre parâmetros projetados e observados ajuda a identificar perdas ou desvios. Para Demay, a análise permite avaliar se o ativo continua capaz de entregar o que foi previsto em projeto, no que diz respeito a sua operação e vida útil, com base em dados coletados no ambiente real.
Otimizar o plano de manutenção
A gestão da integridade permite revisar planos de manutenção com base em evidências técnicas. O acompanhamento contínuo dos ativos mostra quais itens precisam de atenção imediata e quais podem ser despriorizados. Dessa forma, é possível evitar intervenções desnecessárias e direcionar recursos para pontos de maior risco ou impacto.
Processos mais seguros
O uso estratégico de dados técnicos permite identificar situações de risco antes que causem acidentes. Com essa prática, o ambiente de trabalho se torna mais bem controlado, uma vez que as situações críticas são previstas e evitadas.
Proteção à imagem da empresa
A confiabilidade da operação afeta diretamente a percepção do mercado. Interrupções, falhas ou incidentes podem gerar impactos financeiros e reputacionais.
Práticas consistentes de gestão da integridade contribuem para reduzir esses eventos e demonstram compromisso com segurança, continuidade e responsabilidade técnica.
Apoio na tomada de decisão
As informações obtidas no processo sustentam decisões mais consistentes. Demay destaca que a gestão da integridade “cria uma base objetiva para planejar intervenções e definir prioridades”.
Com isso, decisões operacionais deixam de depender apenas da percepção individual de analistas, e passam a se basear em estimativas do comportamento real dos ativos, o que aumenta a sua confiabilidade
Tecnologia, transformação digital e gestão da integridade
A transformação digital tem ampliado a eficiência da gestão da integridade.
A coleta automatizada de dados, aliada à análise em tempo real, permite decisões baseadas em evidências e reduz intervenções desnecessárias.
A digitalização também contribui para prevenir falhas e organizar a rotina técnica com maior previsibilidade. Entre os principais ganhos operacionais, estão:
- Redução de custos com manutenção corretiva e preventiva, prevenindo paradas inesperadas e desnecessárias;
- Melhoria no fluxo produtivo com menos interrupções;
- Operação mais segura com base em dados confiáveis.
Demay destaca o papel dos gêmeos digitais nesse processo. “A confiabilidade passa a ser avaliada com base em modelos que simulam o comportamento real dos ativos”, afirma. Esses modelos ajudam a estimar a vida útil dos componentes e a testar cenários antes de qualquer intervenção.
A gestão passa a atuar de forma preditiva, combinando sensores, algoritmos e modelos digitais para manter a integridade dos ativos com menor exposição a riscos.
Desafios da implementação da gestão da integridade
A aplicação da gestão da integridade envolve mais do que tecnologias e ferramentas.
A adoção exige ajustes estruturais, mudança de lógica operacional e revisão de prioridades. Mesmo com recursos disponíveis, a decisão de investir depende de fatores técnicos e culturais que nem sempre estão alinhados.
Custos mais altos
A estruturação exige aquisição de sensores, softwares, capacitação e tempo para adaptação. Os custos iniciais podem ser vistos como altos em comparação com métodos tradicionais.
Demay aponta que os ganhos se revelam ao longo do tempo. “Os benefícios surgem quando a organização passa a decidir com base em informações de maior confiabilidade”, explica.
Dados de qualidade disponíveis
A qualidade da análise depende diretamente da base de dados disponível. Informações incompletas, desatualizadas ou sem padrão comprometem os resultados. Para Demay, a avaliação da base é uma etapa obrigatória. “Modelos digitais exigem dados confiáveis, ou vão produzir ruído e gerar decisões erradas”, destaca.
Mudança de paradigmas
A decisão de investir depende da confiança nos dados. Quando a informação não transmite segurança, os gestores adiam ações e mantêm métodos antigos.
Isso cria um bloqueio técnico e financeiro. “Sem confiança nos dados, não se investe; sem investimento, os dados não melhoram”, resume Demay. Quebrar este ciclo requer disposição para testar modelos e validar resultados por meio de casos concretos.
Como medir o sucesso da implementação dos programas de gestão de integridade?
A avaliação da gestão da integridade precisa estar vinculada ao desempenho técnico dos ativos. Os indicadores devem refletir impactos práticos na operação, considerando segurança, continuidade e eficiência. A clareza no motivo de cada intervenção técnica é um dos sinais de maturidade do processo.
Como exemplifica Demay, “antes, fazia-se inspeção e ninguém sabia por quê. Agora, existe um motivo técnico para cada intervenção”. A rastreabilidade das ações mostra que a gestão está integrada ao planejamento, com decisões baseadas em critérios objetivos.
Entre os indicadores utilizados para medir o avanço dos programas, estão:
- Redução de falhas inesperadas nos ativos;
- Diminuição do tempo médio de parada de equipamentos;
- Aumento da vida útil dos componentes monitorados;
- Qualidade e consistência dos dados coletados ao longo do tempo.
Essas métricas ajudam a identificar se o programa está alinhado à operação e se reduz a dependência de ações emergenciais. A mensuração periódica permite revisar estratégias e ampliar o alcance técnico da gestão de integridade. Para que a prática se torne rotina, é necessário que a organização compreenda seu papel estratégico.
Como destaca Demay, “algumas empresas tornam a gestão da integridade uma rotina. Outras seguem com decisões baseadas em subjetividades, feeling.” .
O sucesso da gestão da integridade depende de cultura técnica e organizacional. É preciso que se entenda que a informação extraída de dados e de modelos digitais tem muita valia, e que o investimento se paga ao longo do tempo.
A otimização dos planos de inspeção e de manutenção significa, em última instância, economia de recursos com a mesma segurança operacional.
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