Em um cenário em que a crise climática é irreversível, cada vez mais empresas e governos têm se movido para reduzir os impactos das atividades humanas no meio ambiente.
Parte importante desses esforços se concentra na descarbonização da frota de veículos, isto é, a priorização de alternativas limpas e renováveis, como é o caso dos veículos elétricos.
Países como China, Reino Unido, França, Índia e Noruega têm planos para banir a comercialização de carros movidos a gasolina e diesel até, no mais tardar, 2040.
O Brasil ainda está um passo atrás dessas nações, e essa questão ainda engatinha no País. Embora o número de veículos elétricos comercializados venha aumentando, ainda há muitos desafios a serem superados.
E o maior deles é viabilizar novos modelos de negócio para a mobilidade elétrica, sobretudo no que se refere à infraestrutura de recarga e serviços que podem ser explorados para agregar valor e contribuir para a consolidação do setor.
Neste artigo, vamos entender a importância da inovação e conhecer alguns modelos que podem colaborar para impulsionar a mobilidade elétrica no Brasil. Acompanhe!
Por que é preciso inovar para apoiar o desenvolvimento da mobilidade elétrica
De maneira geral, as alternativas sustentáveis aos veículos movidos por combustíveis fósseis ainda não conseguiram conquistar parte significativa do mercado, uma vez que o potencial de redução dos efeitos nocivos ao meio ambiente não configuram, por si só, um argumento suficiente para convencer o consumidor comum.
É por isso que novos modelos de negócio são necessários para a expansão da mobilidade elétrica: é preciso gerar valor para torná-la mais atrativa e incentivar o desenvolvimento e a consolidação desse mercado.
Felizmente, o Brasil tem o potencial para se colocar como um dos grandes protagonistas da transformação global por meio do uso de tecnologias limpas.
Processos inovadores conseguem aumentar a sinergia para a modernização do setor, aliando instituições públicas e privadas para gerar, adotar e difundir novas tecnologias. Isso envolve montadoras, startups, governos e agências reguladoras, instituições e centros de pesquisa e o próprio setor elétrico.
Além de abrir caminho para a exploração de novos processos, a mobilidade elétrica também permite a geração de novos modelos de negócio, capazes de oferecer novos serviços e novas oportunidades de trabalho.
Leia mais: Veículos elétricos no Brasil: quando a tecnologia deve ganhar força?
Modelos de mercado para infraestrutura de carregamento
Dentre todos os pontos críticos que envolvem a discussão sobre mobilidade elétrica, talvez o mais importante deles seja a infraestrutura de recarga. Ao contrário de outros países, com especial destaque à Noruega, o Brasil possui poucos pontos de recarga, geralmente localizados junto a rodovias.
Com o crescimento da demanda por veículos elétricos, é fundamental que a infraestrutura seja expandida e melhorada, o que passa não apenas pelo oferecimento de novos postos de recarga, mas também pelo fornecimento de estações que permitam o carregamento rápido dos veículos, um dos grandes entraves para sua popularização.
Tipos de infraestrutura
O mercado de infraestrutura de carregamento é dividido em três tipos: residencial, empresarial e público.
A recarga residencial, como o nome sugere, refere-se ao carregamento do veículo elétrico feito por meio das tomadas na casa do usuário. Esse modelo é muito voltado para o consumidor que costuma fazer trajetos diários curtos (ex.: casa – trabalho – casa) e não circula grandes distâncias.
Por sua vez, a recarga empresarial é aquela que abastece a frota das empresas. Conforme mais organizações buscam formas de reduzir custos operacionais e de manutenção, ela surge como uma tendência para um futuro próximo.
Por fim, a recarga pública é a alternativa com mais acessibilidade e conveniência para o público. São estações disponibilizadas em corredores rodoviários e em centros urbanos, que dispõem de equipamentos de alta potência que permitem o carregamento rápido dos veículos.
Importante ressaltar que esses modelos atuam em caráter complementar, ajudando a aumentar a oferta de pontos de recarga ao público e, assim, tornar a mobilidade elétrica mais atraente.
Modelos de mercado para infraestrutura pública
Para tornar o veículo elétrico mais interessante em relação aos de combustão interna, é preciso analisar três parâmetros: preço, autonomia e infraestrutura de recarga. Como vimos, este último é essencial para que os consumidores adquiram veículos elétricos.
É necessário que a infraestrutura pública seja encarada como uma prioridade, cabendo aos governos estruturar – do ponto de vista econômico e regulatório – as etapas para instalação das redes de recarga e, assim, atrair investimentos para a área.
A questão regulatória, aliás, é imprescindível para envolver todos os agentes implicados nos diferentes negócios de recarga de veículos elétricos e para delimitar quais modelos de mercado podem ser implementados – o que, novamente, é essencial para a atratividade financeira de investimentos.
Modelos de pagamento
Com base em modelos de negócios para mobilidade elétrica que já existem na Europa, destacamos três soluções referentes à cobrança por esse serviço:
- Pagamentos ad-hoc: estrutura que permite o pagamento no local, com cartões ou dinheiro. O valor na estação é calculado pelo tempo de recarga, consumo ou taxa fixa.
- Fidelização por taxa fixa: trata-se de um modelo de cobrança mensal em troca da utilização da rede de recarga, oferecendo outros serviços como manutenção e assistência técnica.
- Livre acesso: não estabelece cobrança pela recarga e o lucro se dá pela concessão do local de recarga para outros serviços, como lojas, mercados e restaurantes.
Leia mais: Tecnologias e tendências em mobilidade elétrica
Novos modelos de negócio para mobilidade elétrica
Existem alguns modelos de negócio para mobilidade elétrica que surgem como possibilidades no mercado:
Mobility-as-a-Service (MaaS)
Mostra ao consumidor a melhor solução de mobilidade de acordo com suas necessidades de deslocamento. Está intrinsecamente ligado ao conceito de mobilidade inteligente e também de mobilidade sustentável. Dentre os modais oferecidos está o compartilhamento de veículos elétricos ou locações temporárias, seja para pequenos trajetos ou para viagens maiores.
Car-sharing
Trata-se do compartilhamento de veículos elétricos em centros urbanos. A proposta é oferecer um serviço voltado à mobilidade que seja mais econômico e prático do que possuir um carro próprio, uma vez que o consumidor não precisa se preocupar com abastecimento, tributos, manutenção e estacionamentos, um problema cada vez maior em grandes cidades.
Vehicle-to-grid (V2G)
Apesar de ainda não ser regulamentado no Brasil, é uma possibilidade, dada a insurgência de tecnologias dentro das Smart Grid e Smart Charging.
O V2G permite que os veículos elétricos devolvam a energia não utilizada à rede em períodos de alta demanda. Assim, é bastante aderente com as Smart Cities e também pode servir como serviço ancilar para as concessionárias de energia para estabilização da rede, diminuição de picos de energia na hora do rush, por exemplo.
O objetivo é que, no futuro, os proprietários possam inclusive vender o excedente de energia.
Leia mais: Tecnologias para veículos elétricos: o que temos estudado sobre Mercado e Infraestrutura
Inovação na eletromobilidade brasileira
Como vimos, inovar e explorar novos modelos de negócio é crucial para impulsionar a mobilidade elétrica. A Fundação CERTI atua no desenvolvimento de projetos que contribuem para a consolidação do setor.
Um exemplo é o projeto Eletroposto, criado em parceria com a Celesc, que visa à criação de uma infraestrutura para atender a demanda por postos de carregamento de veículos elétricos, bem como desenvolver estudos para compreender os impactos na rede e as novas oportunidades de mercado. Conheça os detalhes do projeto baixando o case Eletroposto Celesc.