A energia sustentável é um dos pilares mais importantes das mudanças pelas quais o mundo passa e que ainda precisa passar. O Brasil tem um potencial único para se colocar na vanguarda e liderar os esforços de transição energética globais.
A seguir, vamos entender as potencialidades e tendências da energia sustentável. Acompanhe!
Qual a importância da energia sustentável?
O uso da energia sustentável vai além dos impactos ambientais. Trata-se de observar também os aspectos sociais e econômicos.
Se reduzir a emissão de gases do efeito estufa (GEE) é importante, sobretudo no contexto dos esforços para frear as mudanças climáticas, é preciso entender as outras implicações que o uso da energia sustentável pode trazer.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Banco Mundial, 675 milhões de pessoas não têm acesso à energia elétrica em todo o mundo. Paralelamente a isso, estudos mostram que os povos e populações vulneráveis – principalmente nos países tropicais – serão os mais afetados pelas mudanças do clima.
Diante de um cenário em que são necessários esforços para aumentar a oferta de eletricidade mas, ao mesmo tempo, não agravar a crise ambiental, a energia sustentável aparece como parte fundamental da solução.
Para se ter uma ideia, segundo a Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, na sigla em inglês), o uso de energia renovável ajudou a reduzir os custos do setor elétrico em pelo menos US$ 520 bilhões em 2022.
Considerando que as populações mais empobrecidas são as que mais sofrem com a falta de acesso – 80% das pessoas sem eletricidade vivem na África subsaariana –, isso pode ajudar a resolver esse déficit, sobretudo em uma perspectiva a longo prazo.
Aliás, “garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e renovável para todos” é um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU, que devem ser cumpridos até 2030.
Juntamente com os aspectos ambientais e sociais, nota-se também as questões econômicas. Frente à emergência climática, cresce o interesse de governos e empresas em alternativas que ajudem a combatê-la e o Brasil tem muito a ganhar com isso.
Um levantamento da consultoria McKinsey mostra que o mercado de energia renovável pode movimentar até US$ 124 bilhões no País até 2040. De fato, esse movimento já vem acontecendo: em 2023, o Brasil foi o terceiro país que mais atraiu investimentos nessa área, com mais de US$ 25 bilhões.
Energia sustentável no Brasil
O Brasil tem um potencial ímpar no campo da energia renovável. O último Balanço Energético Nacional (BEN), produzido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) com ano-base 2022, mostra que a participação das energias renováveis alcançou 87,9% no Sistema Interligado Nacional (SIN). Quando se considera a oferta interna de energia, elas representam 47,4% da matriz energética.
Porém, nosso potencial não se resume apenas à participação: a diversidade é outro marco. Embora sejamos reconhecidos por nosso potencial de geração de energia a partir das fontes hidráulicas, o BEN mostra que é a biomassa de cana a fonte renovável com maior participação na oferta interna de energia (15,4%).
Em 2023, segundo estudo da Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), mais de 93% da eletricidade gerada no Brasil veio de fontes renováveis. Ao mesmo tempo, o País reduziu o índice de combustíveis fósseis na geração de energia para apenas 5,4% do total. Isso nos coloca como o país com maior percentual de energia limpa entre as nações que compõem o G20.
É importante ressaltar, ainda, o papel que o hidrogênio verde pode desempenhar futuramente no país. Considerado o “combustível do futuro” por ser totalmente limpo, ele tem potencial de gerar R$ 150 bilhões por ano até 2050. Além disso, a União Europeia já anunciou investimentos de R$ 10 bilhões na produção do composto no Brasil.
E é possível observar as implicações práticas do aumento da renovabilidade da matriz brasileira. O BEN mostra que houve redução de 5,1% nas emissões de CO2 na atmosfera nas atividades energéticas. Considerando as emissões per capita, o Brasil (1,9 tonelada de CO2 por habitante) está bem abaixo dos níveis de EUA (12,9), China (7,2) e Europa/OCDE (5,2).
Mas, como vimos, os ganhos dos investimentos em energia sustentável não se limitam aos impactos positivos no meio ambiente e na economia. Os benefícios sociais são importantíssimos.
O Brasil foi o segundo país que mais gerou empregos no setor de energia renovável em 2022, de acordo com relatório da Irena e da Organização Internacional do Trabalho. Foram 1,4 milhão de vagas criadas, o que coloca o País atrás apenas da China e à frente dos Estados Unidos.
Além disso, a energia sustentável promove a inclusão socioeconômica. Vale lembrar que existem comunidades que não estão interligadas ao SIN. Estima-se que exista quase 1 milhão de brasileiros sem acesso à energia elétrica. Eles são, em sua maioria, pessoas que pertencem a povos indígenas e comunidades periféricas.
A energia sustentável tem possibilitado, por exemplo, levar luz a comunidades indígenas isoladas. É o caso das 65 aldeias do Território Indígena do Xingu (TIX), no Mato Grosso, que contam com 70 sistemas fotovoltaicos para geração de energia limpa para escolas, postos de saúde e outras instalações.
Energia limpa e sustentável
Uma vez que tratamos da importância e do panorama da energia sustentável no Brasil, é necessário deixar claros alguns conceitos. Energia sustentável não é, necessariamente, sinônimo de energia limpa ou energia renovável.
Como o próprio nome sugere, renováveis são fontes naturais que não se esgotam, pois possuem a capacidade de se regenerar. É o caso das energias solar e eólica.
A partir desse entendimento, desmembram-se a energia sustentável e a limpa. A primeira se refere à eletricidade obtida de fontes renováveis e gerada em uma quantidade e em uma velocidade que permite à natureza repô-las. Ou seja, trata-se de uma visão que compatibiliza a preservação dos recursos naturais com o desenvolvimento socioeconômico.
Por sua vez, a energia limpa é aquela que não emite poluentes durante sua geração. Isto é, não possui impactos negativos no meio ambiente. Toda energia limpa é sustentável, e ambas são renováveis.
Tendências de sustentabilidade da indústria de energia
No mundo pós-pandemia e diante dos desafios climáticos, algumas tendências surgem no horizonte do setor energético. Destacamos:
Incentivos e políticas públicas
Para os próximos anos, é preciso aprofundar os investimentos na transição energética e em pesquisa e desenvolvimento de soluções ligadas à energia sustentável, como o hidrogênio verde.
Na esteira disso, os governos devem investir na melhora da infraestrutura, criar metas realistas, além de criar incentivos para atrair investidores e estimular o setor.
Diversificação da matriz energética
Embora a energia gerada a partir de fontes hídricas seja considerada limpa, a expansão dessa rede se torna praticamente inviável. Isso por conta dos impactos ambientais e sociais que a construção de usinas hidrelétricas acarreta, além das consequências de possíveis crises hídricas, como vimos no passado recente.
Por esse motivo e para reduzir a dependência de uma fonte majoritária, é necessário aumentar os investimentos para diversificar a matriz energética. O Brasil tem grande potencial solar, eólico, energia das marés e, como citado, do hidrogênio verde.
Importante dizer que não se trata de um esforço apenas para a geração. Os processos de distribuição também precisam ser melhorados. Nesse sentido, a interligação das redes é fundamental para a evolução do sistema e para permitir o livre acesso.
Redes inteligentes
As redes elétricas inteligentes (smart grids) são um dos pontos mais importantes para a digitalização do setor elétrico.
Elas permitem incorporar à cadeia de geração e distribuição de energia outras tecnologias, que possibilitam descentralizar o mercado e mudar a relação entre os agentes.
As redes elétricas inteligentes também transformam o papel das unidades consumidoras. Ao invés de apenas consumir energia sem autonomia, empresas e pessoas podem atuar na compra e venda de energia, inclusive fornecendo o excedente do que geram a partir de estruturas próprias e que não consomem.
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