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Transição energética: o que é e como está o cenário brasileiro?

A transição energética deixou de ser um conceito restrito a especialistas e passou a ocupar o centro de debates sobre economia, clima e desenvolvimento.

Em todo o mundo, governos e empresas buscam alternativas para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e viabilizar modelos mais sustentáveis de geração e consumo de energia.

No Brasil, esse processo ganha contornos próprios: o país parte de uma matriz majoritariamente renovável, mas enfrenta desafios estruturais que exigem planejamento e ação coordenada.

Entender esse cenário é o primeiro passo para avaliar o papel estratégico do Brasil nessa transformação. Saiba mais sobre o tema!

O que é transição energética? 

Transição energética é o processo de substituição gradual das fontes fósseis — como carvão, petróleo e gás natural — por fontes renováveis e menos poluentes, como solar, eólica, biomassa e hidrelétrica.

Mas não se trata apenas de trocar uma fonte por outra: a mudança compreende também rever como a energia é gerada, distribuída e consumida.

O objetivo central é reduzir as emissões de gases de efeito estufa e tornar o sistema energético mais eficiente, limpo e sustentável. Isso passa por adotar novas tecnologias, descentralizar a geração de energia e digitalizar redes e processos, tornando tudo mais inteligente e conectado.

Ações relacionadas à transição energética visam o processo de Descarbonização, Digitalização, Descentralização e Democratização Energética (4Ds da Transição Energética). 

A transição energética é, acima de tudo, uma transformação estrutural que redefine a base energética das economias — e, por consequência, o nosso modo de viver e produzir.

O cenário brasileiro da transição energética 

A transição energética no Brasil avança em um contexto diferente do enfrentado por grande parte do mundo.

Enquanto muitos países ainda lutam para reduzir a dependência de fontes fósseis, o Brasil parte de uma base onde as fontes renováveis já são maioria na geração de eletricidade.

Em 2023, o país já contava com 89% da sua matriz elétrica composta por fontes renováveis, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Esse desempenho colocou o Brasil na liderança do ranking de eletricidade renovável entre os países do G20.

As vantagens da matriz brasileira

Grande parte dessa participação se deve ao histórico uso de hidrelétricas. Nos últimos anos, no entanto, o crescimento da energia eólica e solar passou a alterar essa composição.

Segundo projeções do Plano da Operação Energética (PEN) 2024, desenvolvido pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), até 2028, essas duas fontes deverão representar 51% da capacidade instalada de geração elétrica do país.

Essa mudança fortalece a diversificação da matriz, reduzindo o impacto da dependência hídrica e estimulando a geração descentralizada em diferentes regiões.

Outro fator positivo é o potencial técnico disponível. O Brasil possui condições climáticas e territoriais favoráveis à produção de energia solar e eólica em larga escala. Isso permite expandir a geração sem comprometer áreas sensíveis, como florestas e reservas naturais.

A familiaridade com grandes projetos de infraestrutura também facilita a implantação de usinas renováveis em regiões já integradas à malha energética.

Os desafios da transição energética no país

Apesar desses avanços, a transição energética brasileira enfrenta obstáculos estruturais. Em períodos de seca ou aumento no consumo, o sistema elétrico ainda depende de usinas termelétricas movidas a gás natural, carvão ou óleo combustível.

Segundo o governo federal, o acionamento dessas usinas segue sendo necessário para garantir o abastecimento, o que encarece a energia e aumenta as emissões de gases de efeito estufa.

Outro ponto de atenção é o crescimento da demanda. Conforme o Plano Decenal de Expansão de Energia 2034, publicado pela EPE, o consumo de energia deverá crescer 2,1% ao ano até o fim da década.

A expansão da capacidade instalada precisará ser acompanhada de investimentos em transmissão, armazenamento e eficiência energética. Sem esses ajustes, o avanço das fontes renováveis pode encontrar limites técnicos e operacionais.

Caminhos possíveis para ampliar a transição energética no país

O avanço da transição energética no Brasil depende de decisões estruturais que vão além da expansão das fontes renováveis. O país apresenta condições técnicas e naturais favoráveis, mas enfrenta limitações regulatórias, logísticas e econômicas.

Para consolidar um sistema mais limpo e resiliente, é necessário planejar o crescimento com base em infraestrutura, política pública, cadeia produtiva e formação profissional. A combinação dessas frentes pode garantir que a transição não ocorra de forma desigual entre regiões ou setores da economia.

Expansão da infraestrutura para energias renováveis ​​e mobilidade elétrica

A instalação de parques solares e eólicos em regiões afastadas exige redes de transmissão modernas e integradas. Sem esse investimento, parte da energia gerada não consegue chegar aos centros consumidores.

A infraestrutura de recarga para veículos elétricos também demanda atenção. A falta de pontos de carregamento limita a adoção de tecnologias menos poluentes nos grandes centros urbanos e corredores logísticos. O crescimento dessas estruturas precisa ocorrer junto com o planejamento urbano e industrial.

Políticas Públicas Integradas

A transição energética requer coordenação entre diferentes esferas do poder público. Leis e incentivos isolados têm efeito limitado quando não dialogam com as estratégias nacionais de transporte, desenvolvimento urbano e indústria.

O Programa Nacional de Hidrogênio e o Programa Mover são exemplos recentes de iniciativas que apontam para esse alinhamento. No entanto, sua continuidade dependerá de articulação entre ministérios, estados e municípios, além de mecanismos que garantam previsibilidade regulatória.

Desenvolvimento de cadeias produtivas nacionais 

A ampliação das fontes renováveis também passa pela industrialização local de equipamentos e tecnologias. A produção nacional de placas solares, turbinas e baterias reduz custos e gera empregos.

No caso das baterias, há oportunidade de inserção no mercado internacional, considerando a presença de minerais estratégicos no território brasileiro. Para isso, é necessário garantir financiamento, segurança jurídica e integração entre fornecedores, fabricantes e centros de pesquisa.

Educação e capacitação técnica para novos perfis profissionais

A mudança no perfil da matriz energética exige mão de obra com competências específicas. A instalação e manutenção de sistemas solares, por exemplo, requerem técnicos capacitados em diferentes áreas.

O mesmo vale para a operação de redes inteligentes e sistemas de armazenamento. A formação técnica precisa acompanhar a transformação do setor. Parcerias entre escolas técnicas, universidades e empresas podem facilitar esse alinhamento e reduzir os gargalos de qualificação.

Papel estratégico do Brasil na transformação energética global

O Brasil ocupa posição estratégica no cenário internacional da transição energética. A matriz elétrica majoritariamente renovável amplia sua credibilidade em acordos e fóruns climáticos. Além disso, o país reúne condições naturais e técnicas para avançar em áreas como bioenergia, energia solar, eólica e hidrogênio de baixo carbono.

Projetos de hidrogênio verde já estão em andamento em regiões com potencial para exportação. A bioenergia, por sua vez, tem ganhado espaço como alternativa viável ao uso de combustíveis fósseis, especialmente no setor de transportes.

Essas frentes fortalecem o papel do Brasil como fornecedor de soluções energéticas sustentáveis, em um momento de pressão global por descarbonização.

Com uma matriz mais limpa que a média global, o Brasil amplia sua capacidade de influenciar negociações internacionais sobre clima e energia. A realização da COP 30 em Belém, em 2025, reforça esse posicionamento.

O evento representa uma oportunidade para apresentar compromissos consistentes e atrair investimentos alinhados à agenda de baixo carbono. O fortalecimento desse papel dependerá de políticas públicas que garantam escala, previsibilidade e integração entre os setores envolvidos.

O Brasil tem condições reais de assumir um papel relevante na transformação energética, mas este não é um processo isolado, se conectando diretamente a temas como desenvolvimento regional, uso do território e novas economias sustentáveis.

Para aprofundar essa discussão, vale acompanhar o episódio do podcast CERTI Convida sobre o impacto da bioeconomia na Amazônia. Ouça aqui.