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Transição energética na cadeia de óleo e gás: desafios e oportunidades para um futuro sustentável

Transição energética na cadeia de óleo e gás

O setor de óleo e gás ocupa posição paradoxal na transição energética. Fornece a base que mantém a economia em movimento, mas enfrenta a pressão para reduzir emissões e participar de um modelo mais sustentável. O desafio é equilibrar produção e descarbonização sem comprometer a segurança energética global e o equilíbrio financeiro das empresas.

A mudança não depende apenas de metas climáticas e compreende também decisões empresariais, avanço tecnológico e reconfiguração de mercados. Captura de carbono, hidrogênio de baixo carbono, integração de renováveis e digitalização já formam parte desse processo. O ritmo, no entanto, varia conforme o contexto regulatório e a capacidade de investimento de cada país.

Entenda os impactos da transição energética na cadeia de óleo e gás, as iniciativas em curso no Brasil e no exterior, as barreiras que ainda travam o avanço e as oportunidades de diversificação.  Acompanhe!

Impactos da transição energética no setor de óleo e gás

A transição energética já provoca mudanças visíveis nas rotinas e decisões do setor de óleo e gás. Empresas ajustam estruturas, processos e investimentos para lidar com novos parâmetros de eficiência, transparência e emissões.

A pressão vem de governos, investidores e consumidores e alcança toda a cadeia produtiva. O movimento é gradual, mas já altera a forma como o setor planeja crescimento e competitividade.

Pressão para redução de emissões

Metas internacionais de descarbonização colocam o setor sob vigilância rigorosa. O Global Energy Review 2025 informa que as emissões globais de CO₂ ligadas à energia chegaram a 37,8 Gt em 2024, aumento de 0,8 % sobre 2023.

Os operadores enfrentam desafios específicos: vazamentos de metano, queima de gás (flaring) e emissões excessivas em processos industriais de refinarias. Lidar com esses pontos demanda um monitoramento assertivo, manutenção preventiva e uso de tecnologias de contenção ativa.

Além de reparar o impacto ambiental, essas medidas determinam o acesso aos mercados externos. Os clientes internacionais e investidores exigem padrões ESG compatíveis, o que se torna critério de elegibilidade para contratos e financiamento.

Necessidade de diversificação da matriz energética

A dependência excessiva de hidrocarbonetos expõe o setor a riscos econômicos e regulatórios. O BP Energy Outlook 2024 projeta que a participação das fontes fósseis na energia primária global cairá de 85 % para cerca de um terço até 2050.

As empresas do setor já testam modelos de autogeração por meio de usinas solares e eólicas. Além de reduzir emissões diretas, essas iniciativas ajudam a estabilizar o custo energético e reduzir a vulnerabilidade às oscilações do mercado.

No Brasil, a presença de uma matriz elétrica predominantemente limpa cria ambiente favorável para essa transição. Mesmo assim, ampliar o uso de hidrogênio, biocombustíveis e tecnologias de baixo carbono será necessário para manter a competitividade e atender às metas climáticas.

Reconfiguração dos modelos de negócio

O modelo tradicional de operação, baseado apenas em extração e refino, perde espaço para estruturas mais flexíveis. Companhias começam a atuar como fornecedoras de energia integrada, oferecendo serviços de eficiência, gestão e compensação de emissões.

Algumas iniciativas aproveitam oleodutos, terminais e plantas existentes para analisar a viabilidade para transportar hidrogênio ou armazenar CO₂, reduzindo custos de implantação. Outras estruturam novas unidades de negócio ligadas a consultoria em descarbonização e soluções de monitoramento ambiental.

Essa mudança de lógica exige uma gestão preparada para operar com risco calculado e ciclos longos de retorno. Adotar práticas de inovação, estimular a cooperação entre áreas e promover aprendizado contínuo tornam-se passos decisivos para consolidar essa transformação.

Aumento da complexidade regulatória

As exigências legais se tornaram mais rigorosas e abrangem todo o ciclo produtivo. Monitoramento de emissões, rastreabilidade de insumos e auditorias ambientais agora fazem parte das rotinas de conformidade. A multiplicidade de regras entre países amplia custos e incertezas.

Empreendimentos de longo prazo precisam incorporar cenários regulatórios às análises de viabilidade. Projetos que dependem de licenciamento ambiental enfrentam prazos mais longos e requisitos de mitigação mais detalhados. A previsibilidade normativa passou a ser variável de negócio.

Planejar e operar nesse ambiente requer equipes capazes de interpretar marcos regulatórios e dialogar com autoridades. Estruturas internas de governança ganham importância ao integrar aspectos jurídicos, técnicos e financeiros de forma coordenada.

Demanda por novas competências profissionais

A transição energética exige profissionais com domínio técnico em automação, digitalização e sustentabilidade. A escassez de especialistas nessas áreas limita a velocidade de implantação de novas tecnologias.

Programas de capacitação e parcerias com universidades e centros de pesquisa são caminhos para formar equipes capazes de operar sistemas conectados, gerenciar dados e reduzir emissões. O desenvolvimento dessas competências amplia a autonomia técnica e reduz a dependência de consultorias externas.

Panorama global e local da transição energética

Com as pressões ambientais e regulatórias delineadas no tópico anterior, as nações evoluem em ritmos distintos rumo à descarbonização. O que se observa é uma corrida por novas tecnologias e mercados, onde alguns países já lideram e outros enfrentam gargalos estruturais. 

O avanço da transição energética em países da OCDE e da Ásia

Na Europa, a meta de neutralidade até 2050 impulsiona políticas de subsídio, regulação de emissões e integração entre redes elétricas e renováveis. Nos Estados Unidos, o setor recebe incentivos fiscais robustos em lei federal para capturar carbono, renováveis em grande escala e hidrogênio.

Na Ásia, China, Índia e Coreia do Sul avançam com programas massivos de investimento em energia renovável, redes inteligentes e armazenamento. O caminho segue exigente: segundo a Agência Internacional de energia (IEA), para atingir “net zero” até 2050 será necessário ampliar de forma significativa a geração renovável e a eficiência energética global.

A posição do Brasil frente à descarbonização

O Brasil figura entre os países com menor intensidade de carbono no setor energético, graças à forte participação de fontes renováveis. Uma reportagem do Jota aponta que o país apresenta baixo volume de CO₂ por barril de petróleo produzido.

Por outro lado, a cadeia de óleo e gás no Brasil ainda enfrenta empecilhos: infraestrutura projetada para hidrocarbonetos, incerteza regulatória e escassez de projetos maduros e economicamente viáveis de descarbonização.

 A Resolução CNPE nº 5/2022 prevê incentivos para integração entre óleo e gás e fontes de baixo carbono, reuso de infraestrutura e clusters de transição energética.

Captura e armazenamento de carbono (CCUS)

A tecnologia de captura, uso e armazenamento de carbono (CCUS) consolida-se como instrumento estratégico para o setor. A IEA aponta que, até o primeiro trimestre de 2024, a capacidade operacional somada à de projetos com decisão de investimento firme representou apenas 20 % da meta anunciada para 2030.

O crescimento permanece gradual. Oito novos projetos de CCUS iniciaram operação em 2024, mas com capacidade limitada, reforçando a necessidade de investimentos consistentes em infraestrutura e regulação.

No Brasil, estudos do CEBRI e da EPE apontam potencial em regiões produtoras de gás natural, que possuem formações geológicas favoráveis ao armazenamento de CO₂.

Hidrogênio de baixo carbono como vetor estratégico

O hidrogênio ocupa papel central na descarbonização de indústrias intensivas em energia. A EPE e o MME lançaram em 2025 uma plataforma nacional de dados sobre hidrogênio, voltada a atrair investidores e acompanhar o avanço de projetos no país.

Um levantamento de 2024 da EPE identificou 11 projetos em fase de estudo no Nordeste, somando 45,4 GW de potência planejada até 2038. A integração desse combustível com a infraestrutura existente de óleo e gás reduz custos logísticos e acelera o uso em larga escala, especialmente para exportação.

Energias renováveis offshore e seu potencial de complementaridade

Offshore wind farm

A geração eólica offshore tornou-se uma das apostas mais consistentes para ampliar a matriz energética e apoiar a descarbonização da indústria. O Global Offshore Wind Report 2024, do Global Wind Energy Council (GWEC), registrou 10,8 GW de nova capacidade instalada no último ano, elevando o total mundial para 75,2 GW e confirmando tendência de crescimento até 2030.

As plataformas e infraestruturas marítimas podem abrigar equipamentos de geração e transmissão, reduzindo custos e acelerando a implantação de projetos híbridos. A convergência já ocorre em países como Reino Unido e Noruega, que utilizam plataformas desativadas para apoiar turbinas eólicas.

No Brasil, o potencial técnico estimado para eólica offshore ultrapassa 700 GW, de acordo com o Brazil Energy Journal. O debate regulatório avança com a tramitação do marco legal e a criação de um portal específico da EPE dedicado ao tema. As áreas próximas a campos de petróleo concentram grande parte das propostas, o que reforça o potencial de integração entre geração renovável e infraestrutura marítima existente.

Digitalização como aceleradora da eficiência

A digitalização ganhou papel estratégico nas decisões operacionais do setor de energia. O uso de sensores, IoT e análise de dados permite acompanhar variáveis críticas, antecipar falhas e ajustar processos com maior precisão.

As empresas de óleo e gás já aplicam gêmeos digitais para simular cenários e reduzir paradas de produção. No Brasil, o avanço da conectividade industrial favorece o uso dessas soluções, que fortalecem o controle de emissões e aumentam a confiabilidade das operações.

A combinação de eficiência energética e previsibilidade operacional transforma a digitalização em um dos caminhos mais concretos para reduzir custos e manter a competitividade do setor.

A transição energética avança em ritmos diferentes, mas a convergência tecnológica e a digitalização mostram que há caminhos reais para a transformação. Iniciativas que unem inovação, economia circular e uso inteligente de recursos já começam a redesenhar a indústria.

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Barreiras para a transição energética na cadeia de óleo e gás

A transição energética avança de forma desigual na cadeia de óleo e gás. Embora o tema já faça parte da agenda corporativa, a execução ainda enfrenta obstáculos estruturais

A distância entre planejamento e prática está ligada à instabilidade regulatória, às restrições de investimento e à escassez de profissionais preparados para lidar com tecnologias de baixo carbono.

Incertezas regulatórias e ausência de padronização

A falta de diretrizes claras sobre captura de carbono, hidrogênio e rastreabilidade de emissões cria um ambiente instável para investimentos. As empresas enfrentam exigências diferentes entre países e mudanças frequentes em licenças e marcos legais, o que dificulta a previsão de custos e prazos de operação.

A IEA mantém um banco global de dados com centenas de projetos de captura e armazenamento de carbono, a maioria ainda em estágio inicial. A ausência de padronização técnica e segurança jurídica continua sendo um obstáculo central para que essas iniciativas avancem em ritmo compatível com as metas de descarbonização.

Pressões de curto prazo por resultados financeiros

O horizonte de planejamento das empresas ainda é ditado por ciclos trimestrais. Projetos de baixo carbono, que exigem mais tempo de maturação, acabam relegados a segundo plano.

Enquanto as métricas financeiras não incorporarem o valor de redução de emissões, o capital tende a seguir concentrado em operações convencionais. O desafio é tornar a sustentabilidade mensurável na linguagem do balanço.

Resistência cultural à mudança

A estrutura hierárquica e o foco em previsibilidade moldaram o sucesso da indústria. Essa mesma rigidez agora freia a adaptação. Processos baseados em aversão ao erro entram em conflito com a lógica experimental que a inovação demanda.

A mudança depende do incentivo da liderança e da criação de um ambiente que valorize o aprendizado. Sem isso, práticas antigas se perpetuam mesmo quando já comprometem eficiência e competitividade.

Falta de incentivos e financiamento para inovação

O financiamento da transição energética ainda se concentra em fontes maduras, como solar e eólica, deixando lacunas para tecnologias emergentes. A BloombergNEF destaca que, embora 2024 tenha registrado investimentos recordes em energia limpa, a maior parte dos recursos foi destinada a soluções já consolidadas e de menor risco.

Projetos de hidrogênio, captura de carbono e digitalização demandam capital intensivo e apresentam retorno mais incerto, o que restringe o acesso a crédito. Sem mecanismos de mitigação de risco, a inovação continua dependente de incentivos públicos e cooperação entre governos e setor privado.

Defasagem em qualificação técnica

A demanda por profissionais aptos a lidar com automação, captura de carbono e integração digital cresce mais rápido que a oferta. A carência de mão de obra qualificada obriga empresas a recorrer a consultorias, o que eleva custos e dilui conhecimento interno.

Programas de capacitação contínua e cooperação entre indústria e universidades podem reduzir essa defasagem, formando especialistas capazes de sustentar a nova fase do setor.

Caminhos para diversificação e novos modelos de negócio

As empresas que tratam a transição como oportunidade, e não como ajuste de imagem, começam a se diferenciar. A diversificação torna-se ferramenta de sobrevivência econômica e reputacional.

Integração de renováveis às operações existentes

Operações de óleo e gás começam a incorporar fontes renováveis em seus processos produtivos. Modelos híbridos, que combinam geração solar, eólica e rede elétrica, tornam as unidades mais autônomas e reduzem emissões diretas.

A IEA, em seu relatório Renewables 2024, projeta expansão consistente da geração eólica global até 2030, criando condições favoráveis para adoção de soluções de suprimento local em refinarias e plataformas offshore. O movimento amplia a segurança energética e dá novo papel às infraestruturas já existentes.

Produção e comercialização de hidrogênio

A infraestrutura já existente em refinarias e polos petroquímicos coloca o Brasil em posição estratégica para a produção de hidrogênio de baixo carbono. Com alta disponibilidade de fontes renováveis e acesso logístico a portos exportadores, o país pode se tornar um fornecedor relevante para mercados que buscam energia sustentável.

Além do potencial exportador, o hidrogênio tende a ganhar espaço em aplicações industriais e de transporte pesado. O fortalecimento dessa cadeia depende de marcos regulatórios claros e de incentivos que reduzam o custo de produção nas fases iniciais.

Serviços digitais e de eficiência energética

O avanço da digitalização criou uma nova frente de valor para o setor de óleo e gás. A expertise em automação e controle industrial se converte em serviços de eficiência energética voltados a clientes corporativos. Plataformas de monitoramento e análise em tempo real permitem oferecer redução de consumo e previsibilidade operacional sob contrato.

Esse modelo amplia margens, gera receita recorrente e fortalece a governança ambiental por meio de dados auditáveis. Ao transformar conhecimento técnico em serviço digital, empresas consolidam uma nova vertente de negócio alinhada à transição energética.

Reaproveitamento de ativos e requalificação de infraestrutura

Infraestruturas já amortizadas ganham novas funções dentro da economia de baixo carbono. Plataformas desativadas podem abrigar turbinas eólicas, e gasodutos se tornam rotas para hidrogênio ou CO₂.

Esse reaproveitamento reduz custos de capital e evita a ociosidade de ativos. Além de prolongar a vida útil das instalações, consolida a prática de economia circular no setor.

Participação em mercados de carbono e certificações ambientais

O State and Trends of Carbon Pricing 2025, do World Bank, aponta que instrumentos de precificação cobrem cerca de 28 % das emissões globais e geraram mais de US$ 100 bilhões em receitas em 2024.

As empresas que quantificam e certificam emissões ganham vantagem competitiva e acesso facilitado a crédito internacional. A transparência climática deixou de ser diferencial e passou a ser critério de elegibilidade em negócios globais.

A transição energética coloca a cadeia de óleo e gás diante de um teste de gestão e estratégia. A disputa futura será por eficiência mensurável, emissões rastreáveis e capacidade de inovação integrada ao negócio. 

Quem trata a transição como operação, com metas e métricas, tende a reduzir riscos e preservar relevância. Por outro lado, quem adiar decisões estratégicas deve conviver com prêmios de risco maiores e janelas de oportunidade menores.

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