Nos últimos anos, a indústria brasileira enfrenta momentos voláteis, alternando entre crescimento e desaceleração. Ampliando o período de análise, os dados mostram que o setor vem perdendo participação no PIB do País.
A pandemia acelerou as mudanças que vinham acontecendo na indústria mundial e o Brasil tem ficado para trás. Nesse sentido, as propostas de neoindustrialização buscam correr atrás do prejuízo e integrar nossas empresas às cadeias globais de valor com condições competitivas reais.
A seguir, vamos entender a questão da neoindustrialização no Brasil. Boa leitura!
O que é neoindustrialização?
Neoindustrialização é o processo de modernização e reestruturação da indústria brasileira, com foco na inovação e diversificação das cadeias produtivas.
Isso está ligado diretamente à indústria 4.0, com a adoção de tecnologias avançadas e a digitalização, e às demandas globais pela geração de impactos socioambientais positivos. O que se busca é reverter o processo de desindustrialização no Brasil e garantir o desenvolvimento sustentável da nossa economia.
Para que esses objetivos sejam alcançados, a neoindustrialização baseia-se em três pilares. São eles:
- Tecnologia: uso de ferramentas disruptivas, como Inteligência Artificial, Internet das Coisas, automação, entre outros recursos avançados que permitam aumentar a produtividade, otimizar o uso de recursos e reduzir custos;
- Digitalização: na neoindustrailização, os processos produtivos devem ser integrados e digitalizados, embasando a tomada de decisões estratégicas a partir da coleta e análise de dados em tempo real;
- Sustentabilidade: frente à urgência climática, a adoção de práticas sustentáveis pela indústria é ponto-chave. Ações para aumentar a eficiência energética, utilizar fontes renováveis e reduzir a geração de resíduos são alguns exemplos de medidas que podem ser implementadas. Na esteira das políticas ESG, ações de responsabilidade social e de governança também devem ganhar força.
Cenário atual na neoindustrialização no Brasil
Nas últimas décadas, o Brasil passou por um processo de desindustrialização, voltando-se para as commodities e fazendo com que o segmento perdesse peso no PIB nacional. Mesmo assim, dados do Portal da Indústria mostram que ela ainda representa mais de 25% das riquezas geradas no País em 2023.
Atualmente, a indústria vive uma grande volatilidade, alternando momentos de alta com meses de retração.
Diante deste contexto e da mudança na correlação de forças na geopolítica mundial – a ascensão e expansão do BRICS é um exemplo –, o governo brasileiro lançou as bases para a neoindustrialização do Brasil.
No artigo “Neoindustrialização para o Brasil que queremos”, o governo ressalta o processo de desindustrialização do País e o risco de ficarmos para trás em termos de sofisticação produtiva e de defesa da nossa soberania. Destaca o texto: “Décadas atrás, éramos o 25.º país em complexidade de nossa economia. Hoje, estamos ao redor da 50.ª posição”.
Para reverter esse cenário,segundo a proposta, a neoindustrialização do Brasil deve se basear nos setores em que o País já se destaca e, a partir deles, caminhar “na direção daqueles que podem gerar maior valor adicionado e nos quais temos capacidade de ser competitivos”.
O governo também dá destaque ao potencial do Brasil em se tornar uma potência verde e da importância das parcerias sul-sul para expansão do mercado consumidor da indústria nacional.
Além da proposta apresentada no artigo, medidas concretas também foram realizadas. Ao longo de 2023, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) realizou uma série de ações para fortalecer a indústria com bases sustentáveis e impulsionar a inovação tecnológica e nossa capacidade de exportação.
As realizações do ministério se pautaram em diferentes áreas:
- Reestruturação e governança;
- Regulação e competitividade;
- Fomento à indústria nacional;
- Inovação e sustentabilidade;
- Comércio exterior e investimentos externos.
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Vantagens e pontos de atenção da neoindustrialização
O benefício mais claro da neoindustrialização é, justamente, frear a desindustrialização no Brasil. Para se ter uma ideia, em 1985, o setor representava 48% do PIB nacional. Em 2022, o índice não chegava a 24%.
Embora o País seja uma potência agrícola e no setor de serviços, esses segmentos caracterizam-se pela baixa densidade tecnológica. Por isso, além da diversificação, a modernização industrial é outro aspecto essencial e que trará ganhos para as mais diversas cadeias produtivas.
Outro ponto de destaque é a oportunidade que o Brasil tem para industrializar-se de maneira sustentável. Portanto, podemos não apenas reverter o cenário de desindustrialização, como também dar um salto muito maior, posicionando-se na vanguarda mundial no que se refere ao desenvolvimento sustentável.
Existem também vozes contrárias à proposta de neoindustrialização apresentada pelo governo. As críticas residem, sobretudo, no foco das medidas. Para alguns especialistas, o Brasil deve se industrializar pautando-se por sua capacidade competitividade, e não no percentual do PIB.
Além disso, a falta de uma diretriz clara para o contato entre universidade e a indústrias, com vistas à inovação tecnológica, também é motivo de ressalvas.
Por fim, há construções que também devem ser resolvidas. Se a neoindustrialização brasileira almeja ser verde, não há espaço, portanto, para medidas como o estímulo à compra de veículos movidos a combustíveis fósseis.
Desafios da neoindustrialização no Brasil
A neoindustrialização do Brasil não depende apenas de políticas de incentivo. O pacote de mudanças deve vir acompanhado de uma série de reformas e melhorias, como a questão regulatória, redução da taxa de juros, da carga tributária, e do Custo Brasil, e de investimentos em infraestrutura, logística e P&D.
Os objetivos devem ser diminuir os custos de operar no País, aumentar a produtividade e o impulso à competitividade da indústria brasileira no cenário global.
Podemos condensar os desafios à neoindustrialização no Brasil no seguintes pontos:
- Infraestrutura: o Brasil precisa de investimentos massivos em redes de comunicação avançadas e sistemas de automação. Além disso, a infraestrutura física do País também precisa ser melhorada;
- Força de trabalho: a neoindustrialização precisa de trabalhadores mais especializados. Para isso, cabe ao governo investir na educação e na capacitação da força de trabalho, preparando-a para os desafios tecnológicos;
- Sustentabilidade: como vimos, desenvolvimento sustentável é palavra de ordem neste processo;
- Inclusão: a neoindustrialização deve ser conduzida não apenas e mãos dadas com boas práticas ambientais, mas também sociais. Garantir a igualdade e acesso à educação e aos postos de trabalho criados é fundamental.
Futuro da indústria no Brasil: o que podemos esperar
A neoindustrialização é essencial para que o Brasil amenize sua dependência de commodities e se insira de vez nas cadeias globais de valor. Com ela, conseguiremos potencializar nosso crescimento, além de impulsionar a inovação e garantir o desenvolvimento sustentável.
Neste contexto, a indústria 4.0 é peça importante para a modernização industrial do país. A adoção de tecnologias orientada por dados permitirá um salto em termos de produtividade e eficiência.
A Economia Circular, ainda um debate muito incipiente no Brasil, também tende a ganhar força. Pautando-se pelo máximo aproveitamento do que é produzido, ela pode nortear as questões socioambientais que são a base da neoindustrialização.
Este processo deve nos conduzir às principais cadeias globais, trazendo a complexidade produtiva da qual nossa indústria ainda carece. Essa integração é o que vai nos proporcionar mais inovação e sustentabilidade.
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